Henry Charles Bukowski Jr. Criou-se em meio à pobreza de Los Angeles, cidade onde morou por cinqüenta anos, escrevendo e embriagando-se excessivamente. Durante a vida, ganhou certa notoriedade com contos publicados em jornais alternativos, mas precisou buscar outros meios de sustento. Trabalhou durante quatorze árduos anos nos correios. Teve uma filha, Marina Louise Bukowski, casou-se, divorciou-se e manteve-se amasiado em profusão, casando-se posteriormente.
Perambulava pelos guetos, ruas sujas e bares de 5ª categoria. Em certa ocasião chegou a ser internado na enfermaria de indigentes de Los Angeles Country General Hospital e também por outras diversas vezes, com graves crises de hemorragias e outras disfunções geradas pelo abuso do álcool e do tabaco. Há quem diga que não morreu por sorte. Ao receber alta, conciliou-se com sua infalível máquina de escrever e depois de 10 anos, voltou a produzir compulsivamente, só que desta vez, fabricou um vasto material literário, entre poemas e reflexões do dia-a-dia.
"O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte."
Mais tarde, veio a confirmação de óbito, decorrente das complicações causadas durante o tratamento de leucemia, no qual estava se submetendo. Infelizmente o escritor não sobreviveu.
Faleceu na cidade de San Pedro na data de 09 de março de 1994, aos 73 anos de idade, pouco depois de concluir “Pulp”, o que viria a ser seu último trabalho literário.
É considerado o último escritor “maldito” da literatura norte-americana, uma espécie de autor beat honorário, embora nunca tenha se associado com outros representantes beatniks.
Em seus derradeiros anos de vida, Charles Bukowski deixou, além de “Pulp”, mais uma obra, também inédita e publicada postumamente: “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”.
Este livro compreende trechos de seu diário de agosto de 1991 até fevereiro de 1993, onde Bukowski faz referência e revela outro romance que estava trabalhando.
“Estou preocupado com minha novela. É sobre um detetive. Mas eu fico colocando-o em situações quase impossíveis e daí tenho que tirá-lo delas. Às vezes, penso numa solução quando estou no hipódromo. Sei que meu editor está curioso. Talvez ele ache que o texto não seja literário. Digo que qualquer coisa que faço é literária. Ele já deveria confiar em mim. Bem, se ele não quiser o texto, vou despejá-lo em outro lugar. Vai vender tão bem quanto qualquer coisa que escrevi, não porque é melhor, mas porque é tão bom quanto antes e meus leitores malucos estão prontos para ele”.
Este trabalho nada mais era que: “Pulp”, o último suspiro do velho safado, sua última cartada, a única obra que não é explicitamente autobiográfica, embora ainda narrada em primeira pessoa.
Porém, ambos os livros apresentam pistas importantes da total lucidez de que o autor dispunha, em relação a sua precária saúde e o fim que estava cada vez mais próximo, se tornando uma realidade consciente. O olho no olho que o autor tanto aguardava.
Pulp, assim como tantos outros velhos livretos policiais de papel vagabundo, adota o estilo pulp fiction. O fato de o autor tê-lo dedicado à subliteratura, reafirma a condição marginal a qual Bukowski e suas obras sempre estiveram submetidos.
Em “Pulp”, Bukowski narra os episódios da vida de Nick Belane, um detetive particular de terceira classe. Um cara durão, mas azarado, que divide o seu escritório com as moscas e as baratas, onde a personagem sempre atrasa o aluguel. Não muito diferente do autor, quando o mesmo residiu em vários quartos de pensões e hotéis baratos.
Nesta obra percebe-se nitidamente a espera do autor pela morte.
“(...) Em um dia insuportavelmente quente, Belane é surpreendido por uma mulher sexy, de longas pernas, “um glorioso pedaço de carne”, que chega ao seu escritório.”
E seu nome é? Dona Morte.
Ela tem um trabalho para o detetive: encontrar Celine, um escritor francês que está morto há 32 anos, mas que ela insiste em dizer que o avistou em uma livraria de Los Angeles. Na busca por Celine, Belane também investiga outros estranhos casos, todos envolvendo vigaristas dos mais variados tipos, perseguições, assassinatos, brigas de bar e até uma conspiração alienígena.
Dona Morte, uma mulher inacreditavelmente fatal, é a personificação do sentimento que acompanhava Bukowski no período em que escreveu a obra; o de estar vivendo os seus últimos dias.
Pulp foi escrito em 1993, nos intervalos entre as sessões de quimioterapia a que Bukowski se submeteu devido à leucemia que o mataria meses mais tarde. Ele não conseguiu concretizar "a grande trapaça" e a Dona Morte o fisgou.
Sua literatura é de caráter extremamente autobiográfico, e nela abundam temas e personagens marginais, como prostitutas, sexo, alcoolismo, ressacas, corridas de cavalos, pessoas miseráveis e experiências escatológicas.
Um estilo livre, simples e imediatista. Na obra de Bukowski não transparecem demasiadas preocupações estruturais. É dotado de um senso de humor ferino, auto-irônico e cáustico.
Em matéria de Bukowski, as opiniões continuam divididas. Parece que não há meio termo. Ou as pessoas adoram, ou detestam o que ele escrevia. Histórias e façanhas de sua vida pessoal são tão descabeladas e estranhas como as que brotaram de uma imaginação que foi tão fértil. Em certo sentido, Bukowski foi uma lenda. Um desajustado, um recluso, um conquistador, carinhoso e perverso, mas, nunca igual.
O túmulo do senhor Henry Charles Bukowski Jr. se encontra no Cemitério Green Hills Memorial Park, túmulo número 875, da seção Ocean View, Rancho Palos Verdes, Cidade de San Pedro no estado da California, EUA.
Na lápide de seu túmulo está grafado o seguinte conselho:
"Don't Try" (tradução: "Nem Tente")
DESCANSE EM PAZ, MEU VELHO!